"Depois dessa refeição, volte logo para seus pais biológicos. Não fique rondando nossa casa por aí."
Assim que Laura se sentou, ouviu a voz fria e irritada de sua mãe adotiva, Natalie Forbes, apressando-a a partir.
Meio mês atrás, Laura tinha feito um exame médico de rotina, durante o qual Natalie descobriu que o tipo sanguíneo de Laura não batia com o deles. Um teste de paternidade confirmou que Laura não era filha biológica deles.
Natalie e seu marido, Franklin Forbes, contrataram um detetive particular e, finalmente, encontraram a verdadeira filha deles, Judy Forbes.
Natalie sempre sentiu que Laura não se encaixava bem na família. Ao longo dos anos, nunca deram a ela muito amor ou carinho. Até mesmo ao dar um nome para ela, Natalie não conseguiu usar o sobrenome da família. O nome "Laura" foi escolhido de um cemitério próximo a uma ponte na cidade natal de Natalie, um nome sem calor e significado.
Agora que encontraram Judy, sua filha biológica, a família Forbes não poderia estar mais feliz.
Quanto a Laura, os Forbes haviam encontrado seus pais biológicos, que viriam buscá-la hoje.
Laura olhou para a farta refeição sobre a mesa. Era a refeição mais extravagante que já haviam oferecido naquela casa - e seria também a última.
Judy, vestindo uma roupa de grife, estava sentada à mesa com um ar presunçoso. "Laura, é melhor comer bem. Este é o presente de despedida dos meus pais para você. Ouvi dizer que sua família é bem pobre. Viver no campo é tão diferente da cidade. Será que você vai conseguir se adaptar?"
Natalie olhou para Judy com afeição. "Se ela vai se adaptar ou não, é problema dela. Você é boa demais, Judy."
Laura olhou para Natalie. Pela primeira vez, viu uma ternura maternal nos olhos dela - mas não era para ela. Era toda para Judy.
A mesma Natalie que sempre tratou Laura com frieza e indiferença agora estava enchendo Judy de amor, como se Judy fosse o centro do universo dela.
Assim que Judy voltou, Franklin e Natalie não perderam tempo para fazê-la se sentir em casa. Eles fizeram Laura se mudar do quarto dela e redecoraram para Judy, enchendo-o com móveis caros. Até compraram um piano e construíram um estúdio de dança depois de saberem que ela adorava dançar.
Enquanto isso, Laura foi banida para o menor e mais isolado quarto da casa.
Laura se levantou da mesa, captando a expressão presunçosa de Judy. Mas assim que Judy notou seu olhar, rapidamente mudou para um semblante de piedade e inocência.
Laura olhou friamente para ela. "Você devia comer mais, Judy. Afinal, você provavelmente nunca teve uma refeição tão boa assim antes."
Judy ficou momentaneamente surpresa, mas rapidamente disfarçou seus sentimentos com uma expressão magoada. "Laura, eu só estava preocupada que você não teria uma comida tão boa assim quando voltar para seus verdadeiros pais. Não quis dizer nada por isso. Se você não quiser ir embora, posso falar com a Mamãe e o Papai. Você gostaria de ficar?"
A raiva de Natalie aflamejou. "Judy, você é gentil demais! Você tem boas intenções, mas algumas pessoas simplesmente não sabem apreciar."
Franklin tentou intervir para aliviar a tensão. "Tá bom, vamos parar com isso."
Mas Natalie não queria saber de parar. "Por que devo? Judy é nossa filha de verdade. Laura não é! Por causa dela, nossa Judy cresceu em um orfanato e sofreu todos esses anos!"
Judy puxou suavemente o braço de Natalie, oferecendo um sorriso simpático. "Mamãe, por favor, não fique chateada. Isso não faz bem para sua saúde."
Natalie amoleceu, segurando a mão de Judy. "Viu só? Judy se importa comigo. Somente uma verdadeira mãe e filha poderiam ter um vínculo assim."
Os olhos de Laura ficaram frios. Ela se levantou e subiu as escadas para arrumar suas coisas.
Vendo Laura se preparando para sair, a mente de Judy correu rápido, chegando ao noivado de Laura. Ela se fez de irmã preocupada. "Mamãe, talvez a Laura devesse ficar. Afinal, ela está noiva do Alex. Se ela for embora, quem vai casar com ele?"
Natalie e Franklin trocaram olhares, de repente lembrando do noivado.
O avô de Alex Cargill, Nelson Cargill, tinha arranjado para que Laura se casasse com Alex. Um casamento com a família Cargill era uma oportunidade rara—uma bênção que a família Forbes não poderia ter esperado em cem vidas. E de jeito nenhum deixariam que tal enlace fosse desperdiçado com Laura.
Essa sorte deveria ser da Judy!
Natalie agarrou o braço de Laura. "Você pode ir embora se quiser, mas primeiro, escreva uma carta terminando qualquer laço conosco. Deixe claro que você não faz mais parte da família Forbes. Ah, e o seu noivado? Agora é da Judy. Foi arranjado para nossa filha verdadeira, e não para você."
Judy interveio, com a voz suave e doce. "Laura, Mamãe e Papai te criaram por dezoito anos. Eles não foram perfeitos, mas fizeram o melhor que puderam. Por favor, não os aborreça. Se você está com raiva, desconta em mim, mas não machuque a Mamãe. A saúde dela não está bem, e eu me preocupo com ela."
Natalie olhou amorosamente para Judy, sua admiração crescendo a cada segundo. "Judy, você é a criança mais atenciosa que já tive. Diferente de algumas pessoas—um lobo em pele de cordeiro!"
Ela acrescentou com um tom presunçoso: "Franklin, para de gastar palavras com ela! Desde que a Judy voltou há quinze dias, o nosso negócio tem estado em alta. Você não fechou dois contratos importantes recentemente? Tudo isso graças à boa sorte da Judy!"
Laura soltou uma risadinha sarcástica. Boa sorte? Será que esses negócios eram realmente por causa da Judy? Sem dizer nada, Laura casualmente pegou seu celular e enviou uma mensagem.
Judy, desempenhando seu papel perfeitamente, ficou corada de forma modesta. "Mãe, esses sucessos são todos por causa de você e do papai. Vocês fizeram as escolhas e investimentos certos."
Natalie sorriu orgulhosa: "Judy, não precisa ser tão humilde. Você é uma bênção para esta família."
Franklin calmamente acrescentou: "Laura, nós não te prejudicamos. O casamento nunca foi para você. Judy é nossa filha biológica e, não importa o que digam, ela é a futura nora da família Cargill."
Os olhos afiados de Laura brilharam com escárnio enquanto ela olhava para Franklin e dizia calmamente: "Você tem certeza de que esses contratos foram todos graças à Judy?"
Natalie, claramente irritada, retrucou: "Se não foi ela, então quem? Você?"
Nesse momento, o telefone de Franklin tocou. Era seu secretário, José.
"Senhor Forbes, aconteceu um problema! Ambos os investidores desistiram. Eles estão se recusando a cooperar conosco!"
O coração de Franklin despencou. "O quê?! Por quê? O que está acontecendo?"
"Não tenho certeza, senhor. Ambos os parceiros ligaram e insinuaram que sua família trouxe azar há cerca de quinze dias. Eles estão convencidos de que fazer negócios com vocês vai trazer má sorte. Estávamos prontos para assinar os contratos esta tarde, mas agora tudo desmoronou!"
A voz de José, frenética e alta, ecoou pela sala, e Laura, junto com os outros, ouviu cada palavra.
Há quinze dias?
Má sorte?
Eles estavam falando sobre a Judy, não estavam? Momentos atrás, ela era o talismã da sorte deles, e agora estavam culpando-a por trazer azar?
Franklin deu um tapa na coxa com frustração. "Esses negócios teriam trazido um bilhão de dólares! Um bilhão—desaparecido, assim, sem mais nem menos!"
Ele olhou para Judy, com o rosto tomado pela confusão e decepção. Natalie, mesmo com todo o carinho que ela tinha por Judy, não conseguia esconder seu desânimo—afinal, ela valorizava aquele bilhão mais do que qualquer coisa.
O sorriso forçado de Judy vacilou, e a glória em que ela tinha se banhado momentos antes foi substituída por uma completa humilhação.
De braços cruzados, Laura assistia a cena se desenrolar, se deliciando com a queda de Judy. "Senhor e Senhora Forbes, acho que vocês logo vão descobrir quem é o verdadeiro talismã de sorte desta família."
Com isso, ela se virou e saiu, calma e serena.
Assim que desapareceu pela porta, o telefone de Franklin tocou novamente.
"Senhor Forbes, tem mais más notícias. Nosso contrato com a Phoenix Company não expira até o próximo mês, mas eles estão dispostos a pagar a multa só para cortar laços conosco imediatamente!"
O rosto de Natalie ficou pálido ao ouvir as notícias devastadoras. Sua fúria rapidamente veio à tona. "Vou atrás da Laura agora mesmo para descobrir o que aquela pestinha fez com a gente!"
Mas enquanto ela avançava furiosamente em direção à porta, a cena que encontrou a deixou sem palavras.
