Prólogo
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O homem estava alterado e parecia que nada o pararia, ele arrombou a porta e caminhou devagar pela sala escura. — Nós deveríamos ficar juntos, não acha? — Era difícil dizer pela sua expressão, se ele estava a gostar ou não de fazer aquilo com a pobre garota. — Eu estive lá fora por um longo tempo... — Ele chegou ao corredor e tirou a arma guardada ao seu coldre. — E eu descobri como isso pode acontecer! — Ele sorriu. — Posso dizer que todas as madrugadas, está em casa. — Parou em frente ao quarto trancado. — Você esqueceu de apagar as luzes outra vez! — Afirmou ele e pôde ouvir Lissa chorar, arrombou novamente outra porta com apenas um chute. Vendo Lissa no chão do quarto, enquanto segurava o celular, ele adentrou devagar. — Vá em frente e desligue o celular. Para quem tentou ligar? — Ela chorava sem parar e as suas mãos tremiam de medo. — Já passou das três da manhã, ninguém pode ouvir você gritar agora. — Ele agachou‐se em frente a jovem assustada e pôs a mão no seu rosto, a fazendo olhar nos seus olhos. — Veja, eu não estou a tentar machucá-la, mas eu não tenho escolha agora. — O homem acariciou a bochecha molhada pelas lágrimas da garota. Mata-la ali mesmo ou levá-la para bem longe, ele poderia escolher, mas já estava decidido. No momento em que Lissa se deu conta do que ele poderia fazer‐lhe, ela arrependeu‐se amargamente de ter o conhecido.
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Capítulo 01
Dirigindo numa velocidade excessiva no seu carro, Itan poderia acabar capotando. Ele esteve com raiva e estava indo em direção a uma pessoa que queria muito ver. Com o diabo no seu ombro, dizendo-lhe o que ele deveria fazer, alcoolizado e totalmente chapado, a sua mente estava nublada, assim como o céu naquela noite escura, ele não piscava os olhos em nenhum momento, apertava o volante com tanta força, que poderia machucar as suas mãos e ele não daria a mínima para isso. Itan viu o sinal ficar vermelho, e ele não diminuiu a velocidade, estava prestes a ultrapassa-lo, quando viu uma moça na faixa de pedestre caminhar com alguns livros em mãos e um smartphone nos seus ouvidos, provavelmente, a música em seus fones estava no volume máximo, a impedindo de ouvir o barulho do carro se aproximar. Ela não havia notado o carro em alta velocidade, e estava prestes a ser atropelada, Itan arregalou os olhos ao se aproximar cada vez mais da garota, num espaço de milésimos por segundos ele pisou fundo no freio. Os pneus cantaram a queimar o asfalto, levantando minimamente a parte traseira do veículo que logo tornou ao chão. Itan, apesar de cometer vários erros, estava com o cinto de segurança e por conta disso, não voou para fora do carro. Pelo jeito, a ideia de atropelar alguém o deixou um pouco lúcido outra vez. Olhando para a frente, Itan viu a moça assustada com os livros no chão, faltaram centímetros para ela ser atingida, a moça poderia dizer que sentiu o impacto do vento que o
carro fez contra ela, felizmente, o pior não aconteceu. Itan tirou o cinto de segurança, abriu a porta do carro e saiu a dar alguns passos instáveis em direção a garota que permanecia paralisada.
— Aí! — Itan olhou‐a dos pés a cabeça e parou por um tempo ao chamá-la sem educação, inclinou um pouco a cabeça para o lado como se estivesse tentando entender algo, e pensou por um breve momento. — Vai ficar aí?
— A... hã? — A mulher o olhou perplexa, ainda estava em choque.
— Droga, mulher! Ande, saía do meu caminho! — Itan aproximou-se.
— Como... como pode agir assim? O senhor quase matou-me!
— Está inteira, não está? Agora pega as suas coisas e vaza daqui. — Itan segurou o braço da moça no intuito de conduzi-la a fazer o que ele mandava.
— Não me toque! — Ela afastou a mão dele de forma brusca e com o seu tom de voz um pouco elevado. Itan encarou a mesma com olhos furiosos enquanto passava a língua entre os dentes e fitou sua própria mão, a qual a moça havia evitado com um tapa.
— Ok. — Ele afastou‐se. — Melhor torcer para não dar de cara comigo de novo. — Entrou no carro e deu partida, desviando da moça e seguindo o seu destino. A garota ficou desacreditada com a situação que acabara de acontecer, ela balançou a cabeça em negação e agachou‐se para pegar os seus livros.
— Inacreditável... — Ela observou a rua que estava completamente vazia e lembrou que deveria chegar em casa o quanto antes.
Rapidamente Lissa juntou suas coisas e correu para casa, faltava apenas um quarteirão para chegar ao prédio onde morava, quando chegou na portaria, Lissa falou com o porteiro, estava prestes a entrar, entretanto, ela viu um carro familiar entrando no estacionamento do edifício que ficava ao lado do seu, Lissa estreitou os olhos e a sensação de que já havia o visto antes só aumentou, mas qual seriam as chances de dar de cara com o mesmo carro numa cidade grande onde muitas pessoas usavam carros parecidos? Eram enormes! Foi o que ela pensou. Lissa ignorou a situação e entrou no prédio, pegou o elevador e saiu no décimo andar, ela suspirou se sentindo cansada enquanto caminhava até o seu apartamento, arrastando os pés e bocejando, sentindo-se exausta. Foi um dia cansativo e ela só queria tomar um banho e dormir, sem prestar muita atenção, ela encaixou a chave na fechadura.
— Chegando do trabalho agora? — O vizinho do apartamento ao lado acabava de sair.
— Sim... — Lissa o olhou de canto.
— Já jantou? Deve estar cansada! — Perguntou ainda parado em frente a própria porta.
— Sim, já. — Ela sorriu e por fim abriu a porta. — Está saindo?
— Bem... sim, preciso levar os remédios para a minha mãe! — Ele mostrou a sacola branca que segurava.
— Sua mãe está doente?
— Um pouco, mas logo vai melhorar!
— Ah... entendo, cuide bem dela!
— Claro, vou cuidar! — Ele a olhava atentamente como se estivesse analisando cada detalhe.
Lissa sorriu nitidamente sem jeito, parecendo estar desconfortável, acenou com a cabeça e entrou em seu apartamento. O homem ficou parado no corredor por alguns segundos antes de ir para o elevador, ele agia sempre de forma estranha quando via Lissa, mas a mesma achava que ele era apenas alguém tímido tentando se entrosar com as pessoas. Após entrar no seu apartamento, Lissa deixou seus pertencentes em cima da mesa e foi tomar água, depois disso, correu para o toalete, queria tomar banho e relaxar o quanto antes, pois logo cedo estaria de pé. Depois de um banho relaxante, Lissa sentou-se no sofá da sala e começou a revisar alguns papéis. O seu celular começou a tocar, era sua mãe ligando, e sem pensar duas vezes, ela atendeu a ligação.
— Mãe?
— Lissa, minha filha...
— Mãe, tá tudo bem?
— Não consegui dormir direito esses dias. Ainda não me acostumei com você morando numa cidade tão grande estando sozinha!
— Mãe, fica tranquila, eu estou me virando muito bem!
— Hum... não sei hein. A cidade grande é muito diferente, as pessoas são muito diferentes. Você tem que ser uma pessoa atenta.
— Mãe, não exagera. A única coisa diferente aqui, é que é tudo mais longe, mais complicado e muito agitado. As cidades do interior são pequenas e calmas, mas todo mundo é diferente, seja aqui ou no interior.
— Você não está entendendo. Ai... tudo bem, mas tome muito cuidado!
— Sim, mãe...
— Está em casa?
— Aham.
— Jantou? Não pule as refeições, certo?
— Sim. Prometo‐te que não vou pular nenhuma refeição. A senhora também tem que se cuidar, tá bom? Não trabalhe tanto.
— Oh, se preocupe mais com você, querida. Vai ter que se manter focada!
Lissa conversou um pouco mais com a sua mãe e depois se despediram. Lissa sempre morou no interior, não era a primeira vez que ia para a cidade grande, mas era a primeira vez que iria morar sozinha, e numa cidade que ela não estava acostumada com o ritmo agitado. Já se faziam uma semana e meia que Lissa havia se mudado e ela já fizera amizade com os seus colegas de trabalho. Ela sempre fora comunicativa, era difícil alguém não gostar dela, já que a mesma era carismática e gostava de conhecer novas pessoas. O seu problema, era sua falta de atenção, isso acabava a causar‐lhe problemas e criava momentos constrangedores, como na manhã em que andou pelo quarto apenas de lingerie com a janela aberta, e até mesmo colocava a sua vida em risco, como na noite em que quase foi atropelada. Mesmo com o sinal vermelho, é sempre bom olhar para os lados, nunca se sabe quando algum carro conduzido por alguém alcoolizado, quebrará as regras de trânsito. Após revisar os papéis do seminário, Lissa foi para o quarto, despiu-se do roupão e foi até a gaveta pegar algo confortável para vestir e dormir confortavelmente. Lissa virou suas roupas íntimas de um lado para o outro na gaveta, dando por si que uma das suas calcinhas de renda favorita não estava lá. Logicamente ela estranhou, foi até o cesto de roupas sujas, mesmo tendo em mente que não tinha a usado e não a encontrou.
— Eu tenho certeza de que a trouxe comigo! Será que me enganei? Bom, amanhã eu peço para a mãe dar uma olhada nas minhas coisas.