Ponto de vista de Daisy

A agonia se espalhou pelo meu corpo enquanto eu observava Alex Raener, meu companheiro escolhido e futuro Alfa, proferir votos de amor a outra garota, Lisa Sampson. Ela era a primogênita do Beta da matilha e, outrora, minha melhor amiga.

Como todos os outros, Alex me deu as costas quando meus pais foram acusados de traição.

Seu pai, Alfa Raener, fizera ouvidos moucos para suas alegações de inocência e os condenara à morte. Segundo ele, os dois compartilharam segredos com nossos inimigos e conspiraram para derrubá-lo, mas nada disso era verdade; meus pais eram leais à matilha. A única razão pela qual eu ainda estava viva era que não encontraram provas contra mim. Porém, mesmo assim, o tratamento que recebi não foi nada agradável. Fui trancafiada em uma cela e submetida a meses de tortura, na esperança de que eu confessasse envolvimento no suposto motim. No entanto, nada disso se igualou à traição de Alex. Supliquei, por semanas, para que ele não me deixasse, mas ele o fez - e fez de forma humilhante, diante de toda a matilha, declarando o fim de nosso relacionamento e ordenando que eu me afastasse, alegando que não podia ficar com a filha de traidores, pois seu pai retiraria seu título de futuro Alfa de Deep Lake.

Cerrei os punhos com força quando o casal no altar encerrou sua cerimônia. Por um breve instante, os olhos de Alex cruzaram com os meus, e um arrependimento momentâneo tomou conta dele. Contudo, eu rapidamente virei a cabeça, com uma mistura de fúria e desgosto. Então, Lisa segurou o rosto dele, beijou-o intensamente e, em seguida, voltou-se para mim, com um sorriso nos lábios.

"V*dia...", murmurei.

"Eu venci", sussurrou ela, com os olhos brilhando de satisfação.

Lisa, minha amiga de longa data, que sempre esteve ao meu lado, agora, era uma das maiores algozes de minha vida. Quando as coisas começaram a desmoronar para minha família, ela foi uma das primeiras a me virar as costas. Aquela sem-vergonha chegou ao ponto de seduzir meu companheiro, tr*nsar com ele e, depois, anunciar para todos que seria a futura Luna, e não eu. Lembro-me de ter ficado chocada por dias quando a notícia se espalhou.

'Ele não era o cara certo pra gente', afirmou minha loba. Ela não estava mais magoada com a união deles, mas pouco me importava. Conforme os dois se beijavam e abraçavam diante dos meus olhos, a dor continuava a me corroer por dentro...

'Mas eu amava ele...' Soltei um suspiro, com lágrimas brotando em meus olhos.

'Eu sei, mas garanto que ainda vamos encontrar alguém melhor. Alguém que vai nos amar também.' Ela parecia ter certeza do que dizia.

"Senhoras e senhores, apresento a vocês o futuro Alfa e a futura Luna da Matilha Deep Lake, Sr. e Sra. Raener!" O Alfa aplaudiu, e a multidão irrompeu em alegria. Dei um grunhido e saí de lá, só para dar de cara com minhas outras duas inimigas - as gêmeas Beta, Belly e Christina, que tornavam minha vida um inf*rno desde os tempos de colégio. Cruzei os braços e as encarei.

"Saiam da minha frente", rosnei, e elas apenas sorriram, seguindo em minha direção. Belly jogou seus cabelos castanhos sobre o ombro e me deu um empurrão.

"Você é quem tá na nossa frente!" Christina rangeu os dentes, tentando me derrubar. Porém, agarrei seus cabelos e a enxotei, sem dificuldades. Essas duas ainda agiam como valentonas adolescentes, provocando brigas sem motivo, mesmo que já estivessem na casa dos vinte. De repente, um soco voou em minha direção, mas me esquivei habilmente e contra-ataquei, fazendo sangue respingar de sua boca. Seus olhos se encheram de fúria, e as duas gêmeas partiram para cima de mim. Lutei com todas as minhas forças, deixando minha loba interior aflorar. Eu ainda não havia me transformado, mas era mais forte do que elas, pois nunca se preocuparam em treinar adequadamente, com medo de bagunçar o cabelo ou estragar o esmalte das unhas.

Minutos depois, ambas estavam ofegantes, com sangue escorrendo de suas bocas e narizes. Fomos separadas pelos guardas e, logo, a companheira do Beta veio correndo, verificando o estado de suas filhas e, então, me fitando com um olhar cheio de ódio.

"O que foi que você fez com as minhas meninas, sua p*tinha?!", disparou ela, me dando um tapa na cara. O impacto teria me levado ao chão se não fosse pela intervenção de um robusto guarda, que me segurou.

"O que tá acontecendo aqui?!", gritou o Alfa. Ele certamente devia ter captado a algazarra lá do pátio, onde as festividades estavam em pleno andamento. Enquanto todos se curvavam, em respeito ao imponente homem, eu permaneci inabalável. Minha aversão por ele era visceral, e render-lhe qualquer sinal de deferência seria equivalente a endossar o assassinato de meus pais.

"Encontrei a filha dos traidores agredindo minhas pobres garotas. Alfa, essa garota é perigosa. Ela precisa ser banida da matilha!", clamou a mulher, e eu me mantive em silêncio.

"Ela vai ser punida por isso, mas..."

"Foram elas que começaram", protestei. "É sempre assim, mas, por algum motivo, eu sou a única que é punida." O Alfa se encheu de ira e, com uma pegada firme, prendeu meu rosto entre suas mãos, fazendo-me gemer de dor.

"Acha que tá falando com quem, pirralha?! Se eu quiser, posso te matar agora mesmo."

"Devíamos banir ela logo, Alfa, antes que acabe causando problemas pra gente, que nem os pais dela", resmungou Beta Sampson, que se aproximava de nós. Eu sempre soube que ele odiava meu pai. Fossem quais fossem as supostas provas de traição que haviam encontrado, Sampson as controlara, assegurando sua ascensão ao posto de Beta.

"Vamos lidar com essa fedelha depois. Em breve, teremos uma reunião pra participar... O Rei Alfa tá vindo pra cá", respondeu o líder, e seu Beta lançou-lhe um olhar de surpresa.

"Por quê?"

"Ele tá com raiva da gente por causa da morte daqueles embaixadores. Provavelmente, tá vindo entregar uma sentença."

"M-Mas... mas já se passaram meses, e foi um acidente...", titubeou Beta Sampson.

"Sim, mas o Alfa de Blue Rays diz o contrário", declarou Raener. Ele parecia extremamente preocupado, mas quem não ficaria? O Alfa supremo, líder dos líderes, faria uma visita pessoal à matilha, e isso, sem dúvida, não presagiava nada de bom. O Rei Alfa era o lobo mais poderoso entre todos, infundindo temor em muitos devido à sua reputação impiedosa.